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Educação, Dever de Todos
Freud está vivo!

Entrevista: Adam Phillips

 

O texto presente foi retirado de uma entrevista dada à revista Veja, (12/03/03).

O Inglês Adam Phillips, de 48 anos, tem se dedicado a uma tarefa histórica: a organização da segunda tradução do alemão para o inglês da obra de Sigmund Freud.

Autor de dez livros e reconhecido como um dos grandes ensaístas de sua geração, Phillips trabalhou no sistema de saúde inglês durante dezessete anos. Separado e pai de uma menina de 8 anos, hoje atende apenas em um consultório localizado no charmoso bairro de Notting Hill, em Londres, de onde deu a seguinte entrevista a Veja.

Veja - Muitas crianças têm agenda lotada de compromissos.
Há tempo para ser criança no mundo atual?
Phillips - Com certeza não. As crianças entram na corrida pelo sucesso muito cedo e ficam sem tempo para sonhar. Há grande ansiedade da parte dos pais em relação ao futuro. Essa pressão está literalmente enlouquecendo muitas crianças. A decisão sobre a profissão está acontecendo cada vez mais cedo. No século XIV, se as pessoas fossem perguntadas sobre o que queriam da vida, diriam que buscavam a salvação divina. Hoje a resposta é: "ser rico e famoso". Existe uma espécie de culto que faz com que as pessoas não consigam enxergar o que realmente querem da vida.

Veja - Do ponto de vista dos pais, não é legítimo o desejo de sucesso e riqueza para os filhos?
Phillips - Claro. Não acho que as crianças deveriam ser educadas para se tornar revolucionárias. Mas é possível melhorar o que temos. Os pais devem ter como objetivo garantir o futuro de seus filhos e, ao mesmo tempo, deixá-los mais a vontade, com mais tempo e espaço para ser menos focados, menos objetivos. Adiar as decisões sobre o futuro, dar tempo ao tempo.

Veja - O senhor consegue atingir esse equilíbrio com sua filha de 8 anos?
Phillips - Acho que sim. Não fico tentando entender tudo que minha filha faz e diz. Estou mais preocupado em que se divirta. Não acredito num planejamento milimétrico para o futuro de uma criança, como se tudo pudesse ser programado.

Veja - Há alguns anos se fala da necessidade de dar limites aos filhos. Por que os pais acham essa tarefa tão difícil?
Phillips - É assim porque os pais não acreditam nos limites. É preciso acreditar neles para que funcionem. A cultura em que vivemos não facilita esse trabalho. Os pais criam limites que a cultura não sanciona. Por exemplo: alguns pais tentam controlar a dieta dos filhos dizendo que é mais saudável comer verduras do que salgadinhos enquanto as propagandas dão a mensagem diametralmente oposta. O mesmo pode ser dito em relação ao comportamento sexual dos adolescentes. Muitos pais procuram argumentar que é necessário ter um comportamento responsável enquanto a mídia diz que não há limites.

Veja - Como os pais podem resolver esse problema?
Phillips - Resolver o problema é algo muito ambicioso. O que podemos fazer é instruir em que vivemos. O que está a nosso alcance é ensiná-los a ser críticos. Mostrar que as propagandas não são ordens e devem ser analisadas. Será que realmente precisamos de tal coisa? Será que é a melhor opção? Será que tal comportamento é o melhor? Outro problema é a incapacidade dos adultos de ser adultos. Os pais também devem aprender a ser odiados pelos filhos em algumas ocasiões. Muitas pessoas têm filhos porque acham que o nascimento deles é uma garantia de que serão amados de forma incondicional e eterna. Por isso, têm receio do ódio e da desaprovação deles. Tratam crianças como se fosse adultos. Uma coisa precisa ficar clara de uma vez por todas: embora reclamem, as crianças dependem do controle dos adultos. Quando não têm esse controle, sentem-se completamente poderosas, mas ao mesmo tempo perdidas. Hoje há muitos pais com medo dos próprios filhos.




Cuiabá, 13 de março de 2003
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