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Educação, Dever de Todos
Déficit de Natureza

Cuiabá, 15 de Junho de 2007

Quando eu era criança, sempre estávamos ao ar livre. Fazíamos diques em córregos como pequenos castores. Rolávamos morro abaixo, e moldávamos elaborados cenários com gravetos, seixos e argila para encenar infindáveis histórias. Será que voce também brincou em algum lugar especial e mágico na natureza durante sua infância? Será que essas doces lembranças nao fazem sorrir o coraçao? Percorreremos um longo caminho de lá para cá. Hoje em dia, equipadas com celulares, iPods, PlayStations e Gameboys, as crianças transitaram do natural para o virtual, das montanhas para o Matrix.

É como disse recentemente um menino da 4a série: "Gosto de brincar dentro de casa porque é lá que estao todas as tomadas elétricas"

É claro que a nova geraçao está colhendo diversas vantagens de nossas avançadas tecnologias, e de fato demonstrou-se que o uso do computador e dos videogames proporciona vários benefícios psicomotores e cognitivos. Porém, cada vez mais adultos preocupados estao se perguntando: " Mas a que preço?". O neurologista Frank Wilson, da Escola de Medicina da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, questiona: "Essas crianças sao espertas, elas cresceram com computadores; supostamente deveriam ser superiores - mas agora sabemos que algo está faltando".

Uma das coisas que estao faltando é natureza. Pesquisas na Universidade Cornell em Nova York mostraram que crianças com mais natureza perto de casa tem menos distúrbios de comportamento, menos ansiedade e depressao e mais auto-estima. "Nosso estudo revela que os eventos estressantes parecem nao causar tanto transtorno psicológico nas crianças que vivem em condiçoes em que a natureza é mais presente, quando comparadas aquelas que vivem em lugares com menos áreas verdes", diz a professora Nancy Wells. " Ao reforçar os recursos de atençao das crianças, os espaços verdes podem ajuda-las a pensar mais claramente, e com isso capacita-las a lidar mais eficazmente com o estresse."

Os cientistas sugerem que a natureza pode ser útil como uma terapia complementar ou preventiva para crianças diagnosticadas com Transtorno de Déficit de Atençao e Hiperatividade (TDAH). Pesquisadores suecos compararam crianças em duas creches. Numa delas, o playground era cercado de altos prédios, na outra era num pomar próximo a um exuberante jardim. As crianças na creche "verde", que brincavam ao ar livre todos os dias, independentemente do tempo, tinham melhor coordenaçao motora e maior capacidade de concentraçao. Outros estudos verificaram que o desempenho de atençao para crianças diagnosticadas com TDAH foi melhor após uma simples caminhada de 20 minutos num parque com uma paisagem natural que depois de uma caminhada em áreas residenciais urbanas. O professor Robin Moore, da Universidade da Carolina do Norte, afirma: "Experiencias multissensoriais na natureza ajudam a construir a base cognitiva para o desenvolvimento intelectual".

A atual dissociaçao das crianças da natureza, devido a falta de parques ou espaços verdes acessíveis, preocupaçao dos pais, estilos de vida demasiadamente programados ou falta de interesse, dizem os especialistas, está cobrando seu preço nas altas taxas de distúrbios infantis físicos ou mentais. O futurista americano Richard Louv concorda. Se a "terapia da natureza" reduz os sintomas do TDAH, sugere ele, entao TDAH pode ser um conjunto de sintomas agravados pela falta de exposiçao a natureza - o que chama de "transtorno de déficit de natureza". Diz ele: "Privar as crianças de natureza pode ser equivalente a priva-las de oxigenio".

Susan Andrews, é psicóloga, autora do livro Stress a Seu Favor
Coordena a ecovila Parque Ecológico Visao Futuro e escreve quinzenalmente em ÉPOCA

5 de Fevereiro de 2007 / REVISTA ÉPOCA

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